A organização social surgida e consolidada após a chamada revolução industrial, normalmente tida como marco para o surgimento do modo de produção capitalista. É inegável a presença neste momento de transformações de várias ordens, dentre elas culturais, políticas e econômicas. É ao mesmo tempo passado e presente e diz respeito à muitos fenômenos sociais do nosso tempo. De um lado temos enormes avanços tecnológicos e de outro a emergência da miséria em escala até então não vista. É necessário pensar as relações sociais, como uma “mentalidade”, um “espírito” capitalista (Weber), ou o surgimento de um novo modo de produção de mercadorias (Marx). Observadas as largas mudanças nos últimos tempos, para muitos autores já estamos a vivenciar um outro momento, estamos na pós-modernidade.

Segundo Beck (2010) a primeira fase da modernidade é caracterizada pelo surgimento da sociedade industrial, norteada essencialmente pela produção e distribuição de bens. Tanto Beck (2010) como Giddens (1991), embora tenham divergências, concordam que estamos a vivenciar uma segunda fase da modernidade marcada, sobretudo, pelo surgimento de uma “sociedade de risco”. A principal disputa não se dá em relação ao acesso e distribuição de bens, mas em poder evitar ou diluir os males provindos da modernização. Nesse contexto, dentre os inúmeros riscos presentes temos os riscos ecológicos como um dos mais emblemáticos. Os dois autores fazem uma avaliação da condição moderna a partir do conceito de risco. Este pode ser explicado em grande parte pela ascensão da ciência e da tecnologia. Nesse sentido os riscos modernos, inclusive os ecológicos, seriam um traço marcante da modernidade. 

Recentemente um dos conceitos mais vinculados nos meios de comunicação é o de desenvolvimento sustentável. Termo utilizado a revelia, torna-se um clichê, mesmo sendo utilizado de forma controversa e imprecisa com freqüência. Para os que o utilizam com o rigor necessário, ainda assim demonstra-se um conceito pouco consensual. A ausência de consenso não significa necessariamente que o conceito é inútil, mas sim significa que seu uso requer cuidado e atenção. Embora hajam várias concepções de sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável, o conceito de desenvolvimento sustentável ganha corpo a partir da elaboração e publicação do Relatório Brundtland (1987) encomendado pelas Nações Unidas. A formulação desse estudo, apresentado em forma de relatório à comunidade internacional, foi uma tentativa de consenso mundial sobre o modelo de desenvolvimento a ser empregado a partir daquele momento. Neste relatório desenvolvimento sustentável é compreendido como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas (CMMAD, 1991). Jacobs, citado por Lenzi (2006, p. 108) define sustentabilidade da seguinte maneira. Segundo ele: Sustentabilidade significa que o meio ambiente deveria ser protegido de tal forma e em tal grau que as capacidades ambientais (a capacidade do meio ambiente de realizar suas várias funções) fossem mantidas através do tempo: no mínimo, em níveis suficientes para evitar catástrofe futura, e, no máximo, em níveis que dêem às gerações futuras a oportunidade de apreciar uma medida igual de consumo ambiental. Desta forma, o conceito de desenvolvimento sustentável, na perspectiva do Relatório Brutland, busca associar eficiência econômica com justiça social e prudência ecológica. O desenvolvimento, nessa ótica, está relacionado a um processo de mudança que garante a satisfação das necessidades humanas . Em um primeiro momento a preocupação não está no meio ambiente e sim na possibilidade das necessidades humanas serem satisfeitas. A ideia de sustentabilidade presente no respectivo relatório está interessada em sustentar aspectos do meio ambiente que são considerados como críticos à sobrevivência humana. Vale a ressalva de que o meio ambiente, embora esteja relacionado à possibilidade de satisfação das nossas necessidades, é apenas um componente de algo muito mais complexo. Este aspecto é bastante importante visto que o senso comum acaba tendo o desenvolvimento sustentável como sinônimo de possibilidade de manutenção dos recursos naturais, o que revela uma leitura bastante reduzida da realidade. Como afirma Montibeller-Filho (2008), este novo paradigma defende um conjunto de sustentabilidades, sintetizadas pela busca de eficiência econômica, social e ambiental. 

O cumprimento destes três requisitos significa atingir o tão almejado desenvolvimento sustentável. Colocado de forma didática o fato é que falar em desenvolvimento sustentável é muito mais um princípio norteador do que uma fórmula concreta e precisa. O que está evidente no conceito de desenvolvimento sustentável é o enfoque claramente desenvolvimentista aliado à “boa administração dos recursos naturais”. Crescimento econômico e proteção ambiental podem e devem caminhar juntos. Os chamados “modernizadores ecológicos” acreditam que o meio ambiente pode ser protegido dentro da lógica e racionalidade capitalista. O capitalismo “verde” é visto como possível a partir de um sistema de mercado regulado. Segundo esta corrente as empresas capitalistas têm se mostrado capazes de se adaptar às coerções ecológicas, sem abrirem mão de crescentes lucros. Este enfoque é passível de crítica visto que pode ser considerado reducionista ao ignorar aspectos qualitativos da relação entre homem e natureza. Os aspectos quantitativos são importantes mas podem não ser fundamentais. Nesta perspectiva a crise ambiental pode ser entendida como conseqüência de uma forma ideológica racionalizadora que produz e reproduz um estilo insustentável de desenvolvimento. A partir do pressuposto de que a sociedade é fruto da ação humana, é possível pensar que ela pode adquirir outras formas, diferentes daquelas que conhecemos.

Em uma sociedade diferente desta, a natureza não necessariamente precisará ser apropriada como propriedade privada. Poderá se constituir em um bem coletivo, e aí teremos uma mudança qualitativa significante acarretando benefícios a revelia.


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